Lula sinaliza abertura para diálogo direto com Trump sobre tarifas contra o Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou disposição para conversar diretamente com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre as tarifas de 50% anunciadas contra produtos brasileiros. Segundo integrantes do governo federal, a conversa poderá ocorrer caso Trump aceite atender pessoalmente a ligação — condição considerada essencial pelo Palácio do Planalto.
A proposta para o diálogo direto partiu de senadores brasileiros, mas, mesmo com a disposição do presidente brasileiro, o clima entre autoridades do governo é de cautela. Avalia-se que a Casa Branca pretende iniciar uma eventual negociação apenas após a entrada em vigor das tarifas, marcada para o dia 1º de agosto, como estratégia de pressão.
Segundo fontes do governo, os canais diplomáticos com Washington estão atualmente inoperantes. Tentativas de contato com o Departamento de Comércio, o Tesouro e outros órgãos da administração norte-americana não têm surtido efeito. O Planalto afirma que ainda não conseguiu estabelecer uma comunicação com o núcleo político da presidência dos EUA.
A interlocução brasileira enfatiza que o país continuará aberto ao diálogo, mas com limites bem definidos. “A soberania não é negociável”, destacou um assessor direto do presidente Lula, referindo-se especialmente a críticas feitas contra decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao funcionamento do sistema Pix, que estaria sendo visto com ressalvas por autoridades americanas por supostamente afetar interesses comerciais de empresas dos EUA.
Tarifas e seus impactos
No início de julho, Trump comunicou oficialmente sua intenção de aplicar tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros importados pelos Estados Unidos, alegando razões políticas e comerciais. Mais recentemente, reforçou que a medida se estende a países com os quais os EUA têm relações consideradas desfavoráveis, com o objetivo de pressioná-los a abrir seus mercados.
O secretário de Comércio norte-americano, Howard Lutnick, confirmou neste domingo (27) que as tarifas entram em vigor em 1º de agosto, sem prorrogações.
A medida pode afetar cerca de 10 mil empresas brasileiras que exportam para os EUA, conforme estimativa da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil). Juntas, essas empresas empregam aproximadamente 3,2 milhões de trabalhadores no país.
Empresas norte-americanas com forte presença no Brasil também devem sentir os efeitos da medida. Segundo o vice-presidente Geraldo Alckmin, companhias como General Motors, Johnson & Johnson e Caterpillar, que operam há décadas no Brasil, também podem ser impactadas. “Queremos todos unidos para resolver essa questão. Há empresas brasileiras com unidades nos EUA, e americanas com operações relevantes aqui”, afirmou.
Chanceler brasileiro nos EUA
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está nos Estados Unidos desde este domingo e poderá seguir para Washington, caso haja interesse do governo norte-americano em discutir alternativas ao tarifaço. Oficialmente, Vieira cumpre agenda na sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, com foco em debates sobre a situação palestina.
De acordo com integrantes da diplomacia brasileira, a presença do chanceler no país demonstra sinal claro de abertura ao diálogo, embora o deslocamento à capital americana dependa de um gesto concreto da Casa Branca.
Plano de contingência
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a equipe econômica já trabalha em um plano de contingência para apoiar os setores da economia nacional mais vulneráveis aos efeitos do aumento das tarifas. “Não deixaremos os trabalhadores brasileiros desamparados. Vamos tomar as medidas necessárias”, assegurou.

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